domingo, 16 de dezembro de 2012

solstício agreste

não é esse um anúncio qualquer
- pareço ler o acaso em seus passos -
nem mesmo encontro os doze apóstolos
meditando sob a lua cheia
em um lago de garças círculo de luz árvore alta
a família brinca de dança
a dança do milho sol e amigos
um só grupo de filhos da Terra
estrelas se alinham, pedras no caminho
re-conhecendo nossas (s)ondas
nós autores de armistício

distância da terra

uma só estrela parece anunciar a noite
de quem recusou toda a festa
de quem sorrindo pousou no mato
meus pássaros sonhados
onde se fizeram puleiros?
onde os parques e a liberdade?
meu amor esparrama olhos alheios
derramando alma e vida
doação de eucaliptos aromas
meu dia muda
do silêncio breve de água

Madrugada agreste

silêncio de lua nova
sem luzes
cidade quieta chuva fina
alegre insônia
posso ver o passo da rua
posso alçar voo noturno
do alto da torre
no orvalho de novo
lírio figueira pasto
sorriso de erva molha
postes supervisionam

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

carta lu (da primavera)

quando a gente se reconhece
a gente sabe o caminho
a caminhada
a hora da chegada
mesmo que não pareça o destino
essa rota esse sentido
a gente bem sabe
o que guarda revela
ao fim do inverno
primavera

uma sequência para ali-viar

para as co-madres


das mãos saltam folhas

trevos e ascensões

que de arcos íris refletem

suas cores de espaços nus

descobertas de sal ou de eras

onde a voa um pássaro-luz

sua via férrea não suporta

florestas e estrelas de amor


deixem os fios partirem

para que possam entoar

canções com a pauta no ar


***

[na outra primavera eros e psiquê se reencontraram, havia um bom silêncio no ar.
tudo estava em paz novamente reconhecidamente. nada havia de invento
era mesmo esse remar solto de correntes que não evoca martirizações
mas o merecimento de séculos e séculos de silêncio. distância. ausência
na sua presença]

carta escrita no começo da vida

o mar en-carrega de cantar

agora de mar em mar

Ré-ferência

Ao inverno com meu ecoar

no mais de rio solto

ré-verente a porta aberta para o mar

sou mia couto


ré-fervente água reza amar

dentro pouco

o que vi pode ré-sucitar

o que é outro


o que é mesmo

o que é sempre eco-ar

não-novo


presença mouco

(silente)

Con-fissão

a Felipe Terra


o que sabe de dentro

brotar


na sua voz de ecoador

navente


brilhante fosco vívido

esse mergulho


serei teu nome revivo

serei teu re-concílio


concilio o que há de meu mar

morn-ar ar


vou de encontro ao som

ar

som ar

sommmmm arrrr

sommmm arrrrr
sommmarrrrrrr


vou de encontro ao om



sétimo selo (semedo semeio)

sem medo

o que vem dentro encontra

tempo


só mesmo

na doce promessa pode solta

dançar na voz do amor


nunca

soube dizer da grandeza de encontrar

agora pequena semente se fez


de cada terra

grão de areia

de cada sono

despertar

o que é verdadeiro não se perde

o que é de verdade se dirá

não se parte sem vida

não se vence sem ver

o que dirá reconhecer

em si de novo renascer

de novo tudo ecoa

ancora o teu amor

em todas as formas rebrota

presença viva (sexta feira sonho)

amor

em toda parte é o que se faz ecoar

de seu coração


em nós

só mesmo acompanha um balanço


tudo em ti alcança


o que verbo é o mistério



em Ti se revela


segredo

quinta de luz

na voz no alento
sopro instrumento

alumbramento
no leito no-vembro

o membro parceiro
passeio pele talento

rede-tele de dentro
sentir pulsar momento

tudo está junto
distância é só aparência

presença é sempre movendo
arte-vento

a roda evolve
novo pat-amar

não sem encontro

entre tudo
há o mesmo repente

***

[não foi deus quem fez as ondas
não foi deus quem fez o mar
não foi deus quem fez os peixes
deus foi quem soube nadar]

a vida é viva a gente

quarto de tempo

chamo o tempo o tempo o tempo

chamo na chama no verso no veio
na corredeira que alimentou o meu seio
na minha raiz

que brotou esse mar de alegria e saciou
minha sede de vento de sol de euforia
alimentou

meu cantar tão contente mas ventre
que sim gerou
o que é de semente é de fogo é de sonho

é a mostra da fruta madura o ponto
que une o trabalho do ara-dor
com amor

nada fez raiz sen-time-nto
nada fez sen-ti
sem o teu vento

sem a morte ecoando no ar
sem a força do oposto brilhar
sem a nuvem escondendo luar

e o dia vindo clarear

sem o fogo consumi-dor
que gera destrói e liberta
sem a força da primavera

não se pode re-começar

nascimento

terceira passagem (chão-ar)

rodopios de flores e sons
pétalas são bailarinas

que almas dançam no espaço

na cósmica presença cântico-primo

o al-tar

alta-mente

chão chão chão
eleva de si para o são
o que é o que não

chão chão chão
eleva de sim coração
para o ente mão efusão
espargir seu perfume oração

pelo temp(l)o do-ar

amor-tecer

de sua ligadura mover
re-mover o que im-pede
para que sede se faça ser

o que seria do altar saciar
sem raiz o degrau para o chão

segunda flora

da sombra escura da terra brota a sementinha
ninho passarinho brota do ecoar

som

silêncio solto gritou

ahhhhhh! no silêncio do amor

shhhiiiiuu, a vida é flor

raridade que abunda em toda parte
milagre que jorra naturalmente
cuidadosamente

passos leves soltos
a dança sobre o chão

vento sopro vida

espalhando a canção

o som

a vida é santo brotar

da escura e funda da terra
quentura fria do mundo

sementes de flor pelo ar

cada grão do verde que há

na secura do hoje

a umidade que traz o tempo fértil

cada tempo em seu sentimento
cada momento no seu rebentar

harmonia em sua profusão

ordem expressa do ar-ranjar

cada órbita expressão
ecoando em volta

ar-rudiar


primeira son-desafio

somos ou não somos um?
a sua é ou não é a minha dor?
quando te prendem é mim mesmo que prendem?
estou em ti como estás em mim?

estamos assim uns nos outros
ou nos escondemos de vermos quem somos verdadeiramente?
no ver de verdade eu me perdi ofuscado
não tenho olhos para ver
cegueira desespero
onde se encontra meu amor?
onde se encontra meu verdadeiro amor em mim? em ti?

até onde estou disposto a ir por ti?
até onde te confessarei? em mim?

se é verdade que sentimos um no outro
então sabemos ser um no outro outro um
o mesmo em tudo
como arte manifesta que expressa amor
na harmonia da vida

que vida pare tudo isso
renascimentos em nós
como desafios vivos e redivivos de nós

como desatarmos de nós mesmos o que somos em nós

para sermos ainda mais além o que ainda bem somos

o ser de ser

em tudo de ser

sem amarras sem solturas
sem fragilidades e sem forças
como a simplicidade de ser

como o que é semente morre
para a árvore nascer germinar
como o broto cresce gente

e o tronco raiz se espalha no ar em busca da luz

dos frutos da luz

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

claridade

sem cor ou ação
a suavidade da tarde noite
silêncio e renascimento
em cada canção
tempo, vento
passagem chão
o que molhou a paisagem
esse rio esse vão
e a gente descendo na arribação
sem cor ou nome
a gente é quem sabe
o que o amor consome
clara idade

jackie

a luz não se apaga ao seu redor
mesmo à noite ou em tempos sombrios
mesmo se te recobres de dor ou solidão

a distância que inspiras guarda a morte
mas que liberta do centro do ser a eternidade
transmutação de elementos difusos

união e harmonia em teus dias vividos
como a voz que ouvistes de outro mundo
do lugar oco de tudo para além de nossos medos

tuas mãos são capazes de ver o invisível
mas o teu toque afasta o olhar da verdade dos famintos

só há um gesto que promove o amor
e a ti foi pedida dura prova para encontrar o ser além da dor

Luiz

Da solidão agreste e calma
catando lixo entre os monturos
na companhia de terezinha
que ouve o canto lamento
como um fúnebre encanto
como um despertar lento
me perco em sua voz
ébria sobriedade
-homens de bem,
ou mais ou mais,
ouçam a lágrima luz!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Agreste e terra

Do alto da torre de pedra e sal
minha nuvem esquecida de si
não consegue ver o que há no pasto
passo lento olhar calmo
não pode ver que se passa
no outono dos dias
no silêncio nublado
marcando terra e cansaço
marcas de espaço solto
não de casco ou de outro sonho escasso
nem de papelão ou madeira barraco
não é a voz que aproxima ou anula
a distância dos astros

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

13 poemas para o sonho

no criar de tua voz
ecoei silêncios

comigo descansastes à sombra da figueira
mesmo que fruto não se fizesse nessa estação

a mesma clara paisagem desata
de tintas e cores desconhecidas

será esse o destino que persegue os infinitos
essa mensagem de prometeu para a humanidade?

Será mesmo esse fogo etérico
que faz da maçã o gosto suave de fel?

Conheci o novo tempo de uma fresta no olhar
a mesma rua escura de sempre se abre

há uma nova voz em mim

noite adentro

uma só folha sobre a mesa
perfume sem cores
apagam-se as luzes das janelas

veritas verás

nada há que se possa dizer
de uma flor nasce o sol

estrelas caem e renascem

não há memória ou conclusão
o que se inicia aqui é presença

na Presença é que é tudo

não se pode entoar esse canto
mesmo em meio aos sábios

sua suavidade está além das formas

nada há que realize o que é

desnudo

da onde mergulha antes
o que nunca se encerra

no meu sonho distante
em praias montes desertos

cada clarão de memória
é um rebrilhar

cada começo de história
guarda a fonte do ser

não está na palavra
não está no tom da voz

não está na tua imagem
nem no que mostra a paisagem

está no coração

é o que não está e é

travessar

amada vida
o que tens de calor para dar?

tens um barco ou alento
para um viajor cansado?

tens trabalho recomeço?

na outra margem do rio tudo se espelha

uno dádiva

a tua paisagem criativa
é como a flor do dia

rainha de muitas músicas

meu campo desperto
com a guerra entre os dentes

começo a respiração

nada há que não se respire
em si de si mesmo

tudo começa eterno

nada há que não se encerre em si

pista deserta

nada há que não se possa alcançar
apenas o que nada é

nada nos basta
somos de nada infinitos

mistério de terra

de tua doce matéria
nascem universos

teu mistério é grande demais para mim

no silêncio conjunto de cores e mapas

trajetos seguros dentro

tudo como vida incerta

de teu ventre materno
brotam canções

palavra paisagem

tempo de palavra
como quem anuncia o vento
que carrega para as direções

tempo de remanso
a vida clareia tudo
como quem traz na bagagem nada

só a coragem
de ser coração
na cor bela da ação e da paz

na bela oração de silêncio junto

finda o dia

passáros assoviam longe
balanço de rede e mar
lua nova palmeira

mensageiro

som ar
aviva o mesmo dom
milagre de terra e alegria

clara promessa

no vento que molha suave
voa chuva
meu domingo de novas manhãs

sol de novo

eu te reconheço no vento que toca meu rosto
eu te reconheço nas folhas que caem
no suave tilintar da chuva
céu nublado
sol de novo
reconheço
o que de mais belo há aqui
sem nome sem descobertas ou visões
a vida é sua identidade seu endereço e canção

terça-feira, 4 de setembro de 2012

tristeza arredia

como cavalos sem pista
corremos em direção ao campo
minhas amarras incendiadas
pelo olhar solar distante
nem plumas ou aves
nem penas ou bênçãos descansam
a minha correnteza é quebranto
é mar desencanto
meu rio redescoberto
onde a primavera noiva?
língua no céu da boca.

tempo de paz

entrontro-me em paz
a tua voz: canta, canta
ventos de manhã
suavidade nublada e nua
encontro-te em paz
na paz dos que nada pedem
nada tem e nem desejam
será mesmo o encontro de alma
que me faz perceber o inverno?

infinito nada pede
apenas o sonho ilimitado

vendedor de flores

é possível encontrar-se na rua
é possível caminhar em oração
tulipas, rosas e jasmins
o doce perfume suave das cores
margaridas, papoulas azuis
meus olhos não te encontram
é possível alcançar sonhos
em dimensões que se esbarram
entre cruzamentos e sinais de trânsito

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

silêncio tempo

em silêncio me faço louco
me faço outro
com a voz do tempo a me embalar

em silêncio teimo e me faço oco
mas me encho todo
de vento e de nuvens a rodopiar

me faço silêncio moinho
me faço correnteza e riacho
torrente de sonhos desaguar

ah, tempo de som e fusão
tempo de infinitude e limite
ah, tempo de verbo e ausência
tempo de conectar com o tempo

Espera

Redescobrir no universo
o canto secreto de si
o seu próprio canto

caminhar passeios de sal
em meio a praças e sol
com a mão de nuvens

como quem comanda o tempo
perpassar a brincadeira
de eterno presente

e até que a hora anuncie a sua chegada eu estarei com o olhar no horizonte para esperar a barra do dia quebrar

terça-feira, 27 de março de 2012

a lua silencia

noite e estrelas [suave frieza]
a lua foi dormir do outro lado da Terra
e do lado de cá          silêncio

terça-feira, 13 de março de 2012

cai a tarde

o sol poente, o vento e a relva dançam
crianças brincam na praça
meu coração dança junto

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