quinta-feira, 8 de agosto de 2013

rigidez madura

por que essa sede não se transforma em choro
e me dessedenta ou salga a carne
as feridas abertas cicatrizam no bálsamo lacrimal

por que de pés que se fizeram caminho
guardo apenas a túnica e o desespero
sem desprender as asas a voar louco

como pássaro de luz sem guia
a mirar a origem dos dias a meta o som
em silêncio prossigo e já nem sinto saber

se sou eu mesmo esse tanto de verbo e carne
se eu mesmo afirmo ou distancio de mim
esse centro de ser onde está

maduro já de rígida tristeza, sorrio

som longo caminhar

me sinto velho para ter medo perigo
no entanto ando solto no tempo solidão
como criança brinca de palavras nuas
nada há mais que se possa impressionar

me sinto faminto sedento de sede de fome
de tudo que há e que não se entrega
o que há dentro ou fora contudo
consome sem medo ou descoberta

não tenho tempo pra sorte
não tenho vida sem leito
meu recomeço é um santo

jeito de quem não tem jeito
meu recomeço é um parto
meu recomeço é teu texto

+++

reconheço tempo tudo
como se fizesse sentido
fosse primavera o gesto
fosse o abrigo indigesto

réu confesso que fundo
brilha o som princípio turvo
obscuro como um buraco negro
que gera em seu verso tão uno

findo o tempo do medo
tudo gesto mesmo tudo
findo como cigano pareço

um passo no escuro duro
um firme passo sem nada
um caso de embaraço claro

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quando atravesso o templo
posso te contemplar na pedra
fresta do mundo invisível
a voz que da noite seu grito

fez se ouvir o silêncio de ser
como a pantera negra na mata
como a secura fere o coração
de espinhos e curvas encobertas

de cactos destinos vincos
de vivos entalhes de dor ilusão
saudade que guardo tonto

do caminho dos amigos infinitos
do encontro cada dia domingo
em meio à sombria paisagem

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maduro atravesso o rio sem fundo
esse é mesmo o recomeço da gente
que se reconhece no som de tudo
esse é mesmo o passe de mágica

a delicadeza fronte de quem se vê
na abóboda celeste a face materna
no poço de água limpa se reflete
e seus olhos são esse poço

e seus medos mergulham em torno
daquela mesma conversa
de desejo e queda mito e ensejo

e diriges uma prece ao alto
como se pudesse ouvi-lo
em teu ventre útero-universo


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a senda sombra sem medo
caminha dança sem jeito
acompanha o canto noturno
e encanta a lua pleniterna

margeias o verso em teu seio
margeias essa onda de mar
esse mergulho que vem sussurra
como sereia a desencantar

da viagem que clareia céu aberto
navegando por uma desilusão
da areia que encobre o chão

que pisas em meu peito
e do veio que vejo brotar
como semente nova espalha


++


materno vejo ecoar seu grito
sem mistério na praça ao luar
atravessando eras e eras e eras
e chegando até o sonho das eras

a falsa irmandade caiu
o que era mar perfeito caiu
e de sua maré cheia correu
a ferrugem de tantas bases feitas

pelos homens e suas mãos perfeitas
e suas visões perfeitas
e seus caminhos perfeitos

com planos e previsões
perfeitos para a gente levitar
e se encantar até o eco mar

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distante farias um gesto
anunciando imersões lusas
em nossas buscas sutis
e chamarias a esquadra inteira

e os soldados do rei sebastião
mas interno é esse evocar vosso
submerso nos ecos dos ossos
que retornam a vida

esse mito solto prisioneiro
qual terá sido a sua matéria
a chegar no jardim  edênico

e mesmo onde nossos mapas
e bússolas puderam guiar
perdidos entre vidas dimensões


]]]]]]]]]


acordado recomeço louco
com o ir e vir de ondas descobertas
sou a multidão passeia entre os prédios
sou a luz que penetra em meio às árvores

refaço meus pés nas planícies
com as areias de todo o litoral
integro minha alma silvo do vento
sou com árvores e bichos entregue

cada aventureiro que pisou em minhas trilhas
cada pajé que curou minhas feridas
cada sorriso e choro infantil

sou isso e tudo que não se pode dizer
da experiência guardo o prazer do naufrágio
esse prazer que é como um se perder

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quem há de acolher os viajantes caídos
saídos das águas profundas
com sede e fome de nomes e vitórias
as histórias que brotam do silêncio

quem em sã consciência no seu berço
pode ser fonte para outro recostar
e se dessedentar e purificar-se cristal
de cada gole um outro destino brota

de cada novo verbo um pleno rebrotar
assimila a seiva da mata
e revela o canto novo

recebido pelos quânticos
que unos se tornam ao som de tudo
em sua presença de som em pé

[[[[[[[[


agora dos pés brotam espaçonaves
suas libélulas soltas no ar metamorfoseiam
desérticos sonhos se tornam vívidos
e de cada passo esse teu mito envolto

em sãs histórias de tapetes voadores
e de mil e uma noites de versos e despedidas
tuas areias levam ao rio do mundo
teus monumentos indicam o caminho

desperto de longo descanso matéria
trajeto semente de volta às estrelas
naus preparadas partir amanhecido

rumo ao sol que nos alumia
as previsões que fiz se desfizeram
graças ao som longo caminhar


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