13 poemas para o sonho


 & outros poemas desse tempo


Escrevi esses versos aqui no blog e resolvi enfeixá-los como uma espécie de livreto virtual. Pretendo publicá-los também em formato impresso. Enquanto não, deixo-os aqui para que possas apreciá-los em conjunto. 

Deyvid Galindo Santos
  
Outubro, 2012.
Garanhuns-Pe
  
no criar de tua voz
ecoei silêncios

comigo descansastes à sombra da figueira
mesmo que fruto não se fizesse nessa estação

a mesma clara paisagem desata
de tintas e cores desconhecidas

será esse o destino que persegue os infinitos
essa mensagem de prometeu para a humanidade?

Será mesmo esse fogo etérico
que faz da maçã o gosto suave de fel?

Conheci o novo tempo de uma fresta no olhar
a mesma rua escura de sempre se abre

há uma nova voz em mim



uma só folha sobre a mesa
perfume sem cores
apagam-se as luzes das janelas



nada há que se possa dizer
de uma flor nasce o sol

estrelas caem e renascem

não há memória ou conclusão
o que se inicia aqui é presença

na Presença é que é tudo

não se pode entoar esse canto
mesmo em meio aos sábios

sua suavidade está além das formas

nada há que realize o que é



da onde mergulha antes
o que nunca se encerra

no meu sonho distante
em praias montes desertos

cada clarão de memória
é um rebrilhar

cada começo de história
guarda a fonte do ser

não está na palavra
não está no tom da voz

não está na tua imagem
nem no que mostra a paisagem

está no coração

é o que não está e é



amada vida
o que tens de calor para dar?

tens um barco ou alento
para um viajor cansado?

tens trabalho recomeço?

na outra margem do rio tudo se espelha



a tua paisagem criativa
é como a flor do dia

rainha de muitas músicas

meu campo desperto
com a guerra entre os dentes

começo a respiração

nada há que não se respire
em si de si mesmo

tudo começa eterno

nada há que não se encerre em si



nada há que não se possa alcançar
apenas o que nada é

nada nos basta
somos de nada infinitos



de tua doce matéria
nascem universos

teu mistério é grande demais para mim

no silêncio conjunto de cores e mapas

trajetos seguros dentro

tudo como vida incerta

de teu ventre materno
brotam canções



tempo de palavra
como quem anuncia o vento
que carrega para as direções

tempo de remanso
a vida clareia tudo
como quem traz na bagagem nada

só a coragem
de ser coração
na cor bela da ação e da paz

na bela oração de silêncio junto



passáros assoviam longe
balanço de rede e mar
lua nova palmeira



som ar
aviva o mesmo dom
milagre de terra e alegria



no vento que molha suave
voa chuva
meu domingo de novas manhãs



eu te reconheço no vento que toca meu rosto
eu te reconheço nas folhas que caem
no suave tilintar da chuva
céu nublado
sol de novo
reconheço
o que de mais belo há aqui
sem nome sem descobertas ou visões
a vida é sua identidade seu endereço e canção



+ 2 poemas para o sonho

No suave silêncio de apartamentos
fazemos a mitologia desse tempo só

entrecortado pelas buzinas dos carros
e a superpopulação de ilusões em nossas mentes cansadas

será enfadonho demais abrir o novo?
Será mesmo desafiador?

Que demônio titânico houve roubado nossa força?

Não é esse o novo trabalho de Hércules
a nova subida no monte divino
o nosso novo despertar

não teremos alcançado toda a sapiência
em meio aos nossos fios telefônicos, telegráficos invisíveis
em meio a tantas imaterialidades modernas



Ó prometeu amigo
por que não descansastes junto a esta árvore

o que de tão longe te chamava para a festa de descobertas?

com a chave sublime na mão
que sobram de tantos mistérios?

qual o suave mistério que não possa ser revelado?

Será mesmo a tua doce mensagem que ecoou
quando todos dormiam e não podiam ouvir-te?

Meu velho e bom amigo, ouça a voz do que cala

nada há mais para ser revelado
está tudo aqui e agora no vazio de tuas mãos




outros poemas desse tempo

como cavalos sem pista
corremos em direção ao campo
minhas amarras incendiadas
pelo olhar solar distante
nem plumas ou aves
nem penas ou bênçãos descansam
a minha correnteza é quebranto
é mar desencanto
meu rio redescoberto
onde a primavera noiva?
língua no céu da boca.



entrontro-me em paz
a tua voz: canta, canta
ventos de manhã
suavidade nublada e nua
encontro-te em paz
na paz dos que nada pedem
nada tem e nem desejam
será mesmo o encontro de alma
que me faz perceber o inverno?

infinito nada pede
apenas o sonho ilimitado



é possível encontrar-se na rua
é possível caminhar em oração
tulipas, rosas e jasmins
o doce perfume suave das cores
margaridas, papoulas azuis
meus olhos não te encontram
é possível alcançar sonhos
em dimensões que se esbarram
entre cruzamentos e sinais de trânsito



em silêncio me faço louco
me faço outro
com a voz do tempo a me embalar

em silêncio teimo e me faço oco
mas me encho todo
de vento e de nuvens a rodopiar

me faço silêncio moinho
me faço correnteza e riacho
torrente de sonhos desaguar

ah, tempo de som e fusão
tempo de infinitude e limite
ah, tempo de verbo e ausência
tempo de conectar com o tempo



Redescobrir no universo
o canto secreto de si
o seu próprio canto

caminhar passeios de sal
em meio a praças e sol
com a mão de nuvens

como quem comanda o tempo
perpassar a brincadeira
de eterno presente

e até que a hora anuncie a sua chegada eu estarei com o olhar no horizonte para esperar a barra do dia quebrar



noite e estrelas [suave frieza]
a lua foi dormir do outro lado da Terra
e do lado de cá silêncio



o sol poente, o vento e a relva dançam
crianças brincam na praça
meu coração dança junto

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