sábado, 20 de novembro de 2010

África é assim

África é assim sem medo
sem pressa de ir ou de chegar
a volta pra casa
o belo lugar
colo de mãe e luar

África é assim redescoberta
do impulso interno que trago
da inspiração fraterna
divina e o dom do afago
carinho de chão e de terra

é assim que se planta
a semente viva e noiva
como quem faz cócegas
na barriga da vida
e vê brotar alegres plantas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

África V (lucidez errante)

A luz de teus olhos
são encanto que o pretume
ajuntou na terra
a sequidão amarga
dos passos do mar ao rio

que marca esta tua divisa
entre areiais e os passos lentos
o meu olhar se encontra lento
entre tantas ritmadas e balanceios
o balanço da dança do cactus
o vento que arrasta e alimento
movimenta as pisadas da cana
das cocheiras e das montarias
adianta-se com as cestarias
               repletas de frutos: abençoado seja!

África IV (Semba)

África que me desaba
da quentura da terra
o fervilhar do meu hoje
o olho amargo avoador
e a panela bem tampada
para requentar o caldo
toda a tristeza que se esconde
em tuas mãos ágeis
e na agilidade feroz de tuas ancas
ainda me curvo às tuas curvas ondulatórias
a tuas estradas
e ao caminho bem seguido
bem de perto a nuvem
e o revoar de tantos pássaros
sorrindo cantando

África III (Sombras)

África setembros
espadas de raios
caiam sobre nós
de outonos e amplitudes
ambientes de maio


África é comigo regaço
que outrora partida foi
e é descanso na veia
não retempero verbos
África sendida, sega afã

Campos e margens
que se abriram para
o recobrar de noites
o recobrar do senso
após a longa dormência.

África II (baobah)

África
meu coração se quedou entranha
se quedou em sonhos
e de tuas raízes brotou estranho
o sangue que ecoou

África, África
balanço de pembas
e palmeiras índias
tambores de sembas semillas
amassa a massa desse pão

África que surge
e tempero de serras
horizontes distanciados
que a voz do breu anunciou
- a luz de tuas águas.

África I (poemas)

África me consola
me conduz ao teu regaço perdido
me embala em teu colo
que me há adormecido

de tantas quedas e brisas
e das guelras de teu ventre
me foi partido o concílio
o peito amargo e o frio riso

África, que me guerreia
esse outro de vícios
que se há tornado o domínio
Do branco delírio
escravidão dos sentidos
África, conduz-me a teu ninho.

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