sábado, 7 de março de 2015

estações

se estaciono ou retrocedo
sou como um pássaro em queda libre
abra alas para o vento ressoar

se me emociono recomeço
sou o mesmo mergulho essa arremetida
de mitologia a se reinventar

sou esse mesmo solstício
equinócio de mim e de ti
sou mesmo assim vento
como água que esconde terra

como fogo a se requentar
sou assim todo elemento
mais profundo além do tempo
 o fluir de vai e vem do mar

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Silêncios de sandálias

a felipe caminhante, joão vale neto e daniel lins

se aproxima o mestre
dentro de mim
em silêncio de sandálias havaianas
zen encontro com o universo em guerra entre os mundos
ou nos bigodes de salvador dali
que andava na ciclofaixa
sob efeito gás de pimenta
olhos que choram a graça
quem dera eu te reencontro na sala de meditação
da avenida rosa e silva

domingo, 12 de janeiro de 2014

avistamento


será um balão
planeta ou avião refletindo nuvens
será um espelho do sol
ou um ser estelar
que será que se mostra
para toda a rua ver
toda a ladeira
toda a calçada
a gente nem se importava
pra gente era infinito

a bicicleta por um partido


certo dia ao chegar da escola encontrei a bicicleta grande
era maior que eu e minhas expectativas
tinha bagageiro, freios grandes e buzina em meus sonhos
mas não tinha marchas, prateadas, não tinha super-heróis
ou trilhas de esportes radicais, nomes em inglês
mas tinha bicicleta.
mas tinha o passeio para a casa do prefeito
painho era oposição
a decisão era a bicicleta por um partido

telhados do mundo

não é à toa que nos escondemos
em meio aos bancos de feira
em meio aos bancos econômicos
tamarineiras, castanholas
barras-bandeiras
não é à toa essa descida infinita
pela ladeira da baixinha
ou a subida cansativa do barracão de farinha
num pé só, na barbearia catando giletes
dispensadas na calçada
tampinhas de garrafas e algodão doce
pelo casco de guaraná
não é à toa a descida do pequeno príncipe
e a subida em todos os telhados do mundo.

meninada

os dedos desenham na areia
a passagem para outras áreas
terá o dedo traçado destino?
distinto do que se lhe fez?
lagoas e riachos perdidos
pés que molham a lama
calçados de linhas de trem
quintais infinitos pistas de pouso
para que possas voar
além das goiabeiras
além das caramboleiras
além das ameixeiras
mas não muito além dos fios elétricos dos postes

deveramente

deveramente devo ser
um homem velho ou não maduro
e minha mente brota o olho
do olhar severo quem dera sério
deverasmente eu ouso ser
esse inverno em pleno interno
o incluir de tantas louças
em teus fornos de mansidão
que amornam o sol com a mente
deverasmente.
e ainda posso prever
que a tua palavra pulsa esse impulso
o fruto novo doce amargo o santo
a musa despida em sonho e louco
que varre calçadas e anuncia lua
tua vidência de templos distantes
teu transe desperto ou outro vinho
e as portas abertas pro caminho
deverasmente.

---

incidental
quando se tem o álibe...
deveras djavaneia

começar de novo

parece que foi ontem
o brilho nos teus olhos
a mão aberta o sol
o colorido da lona
a entrada com a luz
e encanta rodando raios
com o tecido do encanto
com a música dos sonhos
e a gente se não tivesse
e a gente se não quisesse
teria se conhecido
com a paz de novo

---

trilha djavan e milton
e ao fundo a voz do vento
silênciossss

domingo, 5 de janeiro de 2014

internamente

o caminho é invariável
em meio a tantas variáveis

Trilha que segue

Segue sem margem
encruzilhada de estrelas
detecta do tempo
a vibração do dia
pode ser mesmo essa hora
em que as sombras se escondem da escuridão
raízes obtusas
rainha recusa
a coroa e emancipação.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

rigidez madura

por que essa sede não se transforma em choro
e me dessedenta ou salga a carne
as feridas abertas cicatrizam no bálsamo lacrimal

por que de pés que se fizeram caminho
guardo apenas a túnica e o desespero
sem desprender as asas a voar louco

como pássaro de luz sem guia
a mirar a origem dos dias a meta o som
em silêncio prossigo e já nem sinto saber

se sou eu mesmo esse tanto de verbo e carne
se eu mesmo afirmo ou distancio de mim
esse centro de ser onde está

maduro já de rígida tristeza, sorrio

som longo caminhar

me sinto velho para ter medo perigo
no entanto ando solto no tempo solidão
como criança brinca de palavras nuas
nada há mais que se possa impressionar

me sinto faminto sedento de sede de fome
de tudo que há e que não se entrega
o que há dentro ou fora contudo
consome sem medo ou descoberta

não tenho tempo pra sorte
não tenho vida sem leito
meu recomeço é um santo

jeito de quem não tem jeito
meu recomeço é um parto
meu recomeço é teu texto

+++

reconheço tempo tudo
como se fizesse sentido
fosse primavera o gesto
fosse o abrigo indigesto

réu confesso que fundo
brilha o som princípio turvo
obscuro como um buraco negro
que gera em seu verso tão uno

findo o tempo do medo
tudo gesto mesmo tudo
findo como cigano pareço

um passo no escuro duro
um firme passo sem nada
um caso de embaraço claro

===

quando atravesso o templo
posso te contemplar na pedra
fresta do mundo invisível
a voz que da noite seu grito

fez se ouvir o silêncio de ser
como a pantera negra na mata
como a secura fere o coração
de espinhos e curvas encobertas

de cactos destinos vincos
de vivos entalhes de dor ilusão
saudade que guardo tonto

do caminho dos amigos infinitos
do encontro cada dia domingo
em meio à sombria paisagem

----

maduro atravesso o rio sem fundo
esse é mesmo o recomeço da gente
que se reconhece no som de tudo
esse é mesmo o passe de mágica

a delicadeza fronte de quem se vê
na abóboda celeste a face materna
no poço de água limpa se reflete
e seus olhos são esse poço

e seus medos mergulham em torno
daquela mesma conversa
de desejo e queda mito e ensejo

e diriges uma prece ao alto
como se pudesse ouvi-lo
em teu ventre útero-universo


----]]


a senda sombra sem medo
caminha dança sem jeito
acompanha o canto noturno
e encanta a lua pleniterna

margeias o verso em teu seio
margeias essa onda de mar
esse mergulho que vem sussurra
como sereia a desencantar

da viagem que clareia céu aberto
navegando por uma desilusão
da areia que encobre o chão

que pisas em meu peito
e do veio que vejo brotar
como semente nova espalha


++


materno vejo ecoar seu grito
sem mistério na praça ao luar
atravessando eras e eras e eras
e chegando até o sonho das eras

a falsa irmandade caiu
o que era mar perfeito caiu
e de sua maré cheia correu
a ferrugem de tantas bases feitas

pelos homens e suas mãos perfeitas
e suas visões perfeitas
e seus caminhos perfeitos

com planos e previsões
perfeitos para a gente levitar
e se encantar até o eco mar

=========

distante farias um gesto
anunciando imersões lusas
em nossas buscas sutis
e chamarias a esquadra inteira

e os soldados do rei sebastião
mas interno é esse evocar vosso
submerso nos ecos dos ossos
que retornam a vida

esse mito solto prisioneiro
qual terá sido a sua matéria
a chegar no jardim  edênico

e mesmo onde nossos mapas
e bússolas puderam guiar
perdidos entre vidas dimensões


]]]]]]]]]


acordado recomeço louco
com o ir e vir de ondas descobertas
sou a multidão passeia entre os prédios
sou a luz que penetra em meio às árvores

refaço meus pés nas planícies
com as areias de todo o litoral
integro minha alma silvo do vento
sou com árvores e bichos entregue

cada aventureiro que pisou em minhas trilhas
cada pajé que curou minhas feridas
cada sorriso e choro infantil

sou isso e tudo que não se pode dizer
da experiência guardo o prazer do naufrágio
esse prazer que é como um se perder

]]/////////

quem há de acolher os viajantes caídos
saídos das águas profundas
com sede e fome de nomes e vitórias
as histórias que brotam do silêncio

quem em sã consciência no seu berço
pode ser fonte para outro recostar
e se dessedentar e purificar-se cristal
de cada gole um outro destino brota

de cada novo verbo um pleno rebrotar
assimila a seiva da mata
e revela o canto novo

recebido pelos quânticos
que unos se tornam ao som de tudo
em sua presença de som em pé

[[[[[[[[


agora dos pés brotam espaçonaves
suas libélulas soltas no ar metamorfoseiam
desérticos sonhos se tornam vívidos
e de cada passo esse teu mito envolto

em sãs histórias de tapetes voadores
e de mil e uma noites de versos e despedidas
tuas areias levam ao rio do mundo
teus monumentos indicam o caminho

desperto de longo descanso matéria
trajeto semente de volta às estrelas
naus preparadas partir amanhecido

rumo ao sol que nos alumia
as previsões que fiz se desfizeram
graças ao som longo caminhar


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

cada um dança no seu tempo

aparência de força esconde fraqueza
aparente fraqueza esquece da grande força interna
a árvore está carregada
quando o fruto amadurece é tempo da ceifa
os ramos já tem sua verdura
o céu escurece e chove
provisão para outros tempos
no interior da terra
cada tempo tem a sua mudança
dentro é que mora a semente
após o inverno intenso
o sol vem rebrotar o chão
cada tempo tem a sua mudança

domingo, 16 de dezembro de 2012

solstício agreste

não é esse um anúncio qualquer
- pareço ler o acaso em seus passos -
nem mesmo encontro os doze apóstolos
meditando sob a lua cheia
em um lago de garças círculo de luz árvore alta
a família brinca de dança
a dança do milho sol e amigos
um só grupo de filhos da Terra
estrelas se alinham, pedras no caminho
re-conhecendo nossas (s)ondas
nós autores de armistício

distância da terra

uma só estrela parece anunciar a noite
de quem recusou toda a festa
de quem sorrindo pousou no mato
meus pássaros sonhados
onde se fizeram puleiros?
onde os parques e a liberdade?
meu amor esparrama olhos alheios
derramando alma e vida
doação de eucaliptos aromas
meu dia muda
do silêncio breve de água

Madrugada agreste

silêncio de lua nova
sem luzes
cidade quieta chuva fina
alegre insônia
posso ver o passo da rua
posso alçar voo noturno
do alto da torre
no orvalho de novo
lírio figueira pasto
sorriso de erva molha
postes supervisionam

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

carta lu (da primavera)

quando a gente se reconhece
a gente sabe o caminho
a caminhada
a hora da chegada
mesmo que não pareça o destino
essa rota esse sentido
a gente bem sabe
o que guarda revela
ao fim do inverno
primavera

uma sequência para ali-viar

para as co-madres


das mãos saltam folhas

trevos e ascensões

que de arcos íris refletem

suas cores de espaços nus

descobertas de sal ou de eras

onde a voa um pássaro-luz

sua via férrea não suporta

florestas e estrelas de amor


deixem os fios partirem

para que possam entoar

canções com a pauta no ar


***

[na outra primavera eros e psiquê se reencontraram, havia um bom silêncio no ar.
tudo estava em paz novamente reconhecidamente. nada havia de invento
era mesmo esse remar solto de correntes que não evoca martirizações
mas o merecimento de séculos e séculos de silêncio. distância. ausência
na sua presença]

carta escrita no começo da vida

o mar en-carrega de cantar

agora de mar em mar

Ré-ferência

Ao inverno com meu ecoar

no mais de rio solto

ré-verente a porta aberta para o mar

sou mia couto


ré-fervente água reza amar

dentro pouco

o que vi pode ré-sucitar

o que é outro


o que é mesmo

o que é sempre eco-ar

não-novo


presença mouco

(silente)

Con-fissão

a Felipe Terra


o que sabe de dentro

brotar


na sua voz de ecoador

navente


brilhante fosco vívido

esse mergulho


serei teu nome revivo

serei teu re-concílio


concilio o que há de meu mar

morn-ar ar


vou de encontro ao som

ar

som ar

sommmmm arrrr

sommmm arrrrr
sommmarrrrrrr


vou de encontro ao om



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